terça-feira, 23 de março de 2010

Para os calouros


 
Por Elisson César

Preparados no ensino médio e não raramente em cursos públicos ou particulares, seus nomes constam na lista dos aprovados; alimentam um ritual de corte de cabelo para os meninos e depilação da sobrancelha para as meninas; são tomados pela ansiedade para realizar a matrícula; ficam apreensivos, até mesmo com medo do trote feito pelos veteranos e nutrem a incerteza de estar ou não fazendo a opção correta. Estes são os nossos calouros.

Curso superior, novos professores e disciplinas, uma estrutura que naturalmente se diferencia da escola, um ambiente que parece familiar, mas que nos causa estranhamento e mais que isso: lugar onde se deposita a esperança de realização de sonhos, de profissões, de ideais, de uma proposta para o futuro. Se ainda não foram apresentados a ela, essa é a universidade.

Para uns o choque é inevitável, após a euforia de ser aprovado começam as aulas na tão esperada faculdade e, para muitos, começa também a dificuldade de se adaptar a uma nova maneira de aprender, uma nova fórmula do que é ser aluno. Essa afirmação não significa que ao inserir-se nesse mundo torna-se menos inteligente ou as capacidades individuais ficam reduzidas, mas nada será como antigamente, ao menos não deve, pois esse novo ser que agora surge necessita ganhar autonomia, portanto, deve mais que nunca propor, discutir, questionar, ler, levantar dúvidas, acrescentar, enriquecer, somar, na constante tarefa de ser estudante e de fazer parte de um processo chamado ensino-aprendizagem. Parece discurso de professores do ensino fundamental, entretanto aplica-se perfeitamente à nossa realidade: somos alunos e é na relação dialógica que estabelecemos com os nossos professores que se constrói o conhecimento.

E o que dizer das Ciências Sociais?! Isso é uma disciplina?! É um bicho?! Uma profissão?! Uma ideologia?! Um ramo da ciência?! Um centro de formação para loucos?! Um curso para pessoas que querem mudar o mundo?! Há quem pense que no início até queremos mudar o mundo, depois vemos que isso é um tanto difícil, decidimos então modificar a América Latina, até percebermos que talvez não seja tão simples assim. Podemos optar por querer um Brasil melhor, mas no fim a nossa cidade é o que finalmente importa e de repente, meus camaradas, o que nos resta é a luta pela sobrevivência.

A possibilidade de modificar a si mesmo e se revestir de valores humanos já é o bastante pra se ter a pretensão de mudança naquilo que julgamos ser difícil mudar, para tanto, é preciso pensar universalmente e se perceber enquanto parte integrante de um mundo que caduca e que precisa de esforços para o entendimento das suas dinâmicas sociais e das relações que permeiam esse contexto.

Mas, voltando às nossas indagações... O que seria mesmo as Ciências Sociais? Um emaranhado de coisas que falam da sociedade? É aquela disciplina que temos no colegial chamada de estudos sociais? Seria aquele atendimento que é oferecido em hospitais, o tal Serviço social? É aquele curso que só serve pra gastar dinheiro? Ou ainda um curso de quem é frustrado e queria mesmo era fazer direito? Bom, há quem afirme um pouco de cada coisa, mas a resposta correta, que lhe deixe satisfeito completamente talvez nunca seja dada, ou quando você estiver no final da vida, por falta de opção, formule um conceito que considere a sua definição do que é "isso". Porque toda Ciência Social é um pêndulo que por hora nos é subjetiva demais, e não obstante se torna tão objetiva e coerente que assusta. É algo que se sente, se vivencia, experimenta e qualquer resposta é insipiente perto da grandeza do que representa, ao mesmo passo, a abstração e a concretude dessa coisa que se veste de ciência e se enfeita de humanidade.

Sobre nós? Bom... Alguns serão assim como forasteiros e estão aqui de passagem, meio pra lá, meio pra cá, que não sabem ainda o que querem da vida e aqui se firmaram por falta de opção ou por qualquer outra motivação que cabe a si responder. Têm outros que estão convictos do que fizeram, escolheram por afinidade, por se sentirem à vontade nesse meio em que nos encontramos. Ainda há aqueles que não vêem esse curso como um fim em si mesmo. Fim? Quem disse que essa história acaba aqui, é apenas o início de um caminho que vai ser trilhado exclusivamente por nós, portanto, devemos ponderar nossas escolhas, nossas ações e extravasar quando preciso for, mas ser responsável pra assumir que o profissional e o ser humano que se produz e se reproduz constantemente, além de ser um produto social é também construído por nós.

Elisson César é estudante do curso de Ciências Sociais da UNIVASF.

Texto apresentado na semana de integração para os calouros do curso.

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